segunda-feira, 2 de março de 2009

A garota que morava no quarto



A garota caída no chão está na iminência de soltar um berro estrondoso. Seu joelho esfolado provoca medo em seu agressor. Mas não por estar preocupado com a garota. Estava com medo das punições que poderia sofrer por ter provocado aquilo.


- Não queria te machucar – diz o muleque manhoso.
- Buáááá!! – dana-se a berrar a menina.
- Silêncio! Mainha vai ouvir...
- Sai daqui seu idiota!! Buááá!!

O garoto sai correndo quando ouve os passos de dona Maria. A garotinha no chão estatela a chorar enquanto ele desaparece na esquina.

- Quem te derrubou minha filha?
- Foi Marcelo. Ele me empurrou!! Buáá...


O garoto dizendo-se arrependido reaparece na esquina pedindo desculpas. A menina o chuta e é bruscamente repreendida pela mãe, que massageia a canela do primogênito atingida pelos pés descalços da pobre menina magrela.


A garota permanece no chão. Não sente mais a dor da ferida. Começa a chover e a menina, desprezada, não sente as gotas d'água atingirem sua pele. O desprezo faz com que ela questione a própria existência. Termina convencendo-a de que ela não está em lugar nenhum.


Impotente, tranca-se no seu quarto e começa a viver lá, de bico espichado e bochechas infladas...

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