terça-feira, 21 de outubro de 2008

Serra da Caraconha | Cap_3


O fato de Ana ir à minha frente, mostrando-me onde as pedras eram firmes e onde eu não deveria pisar, me deixaram meio sem graça e sentindo que algum comentário sobre a cena estava na iminência de mostrar-se. Veio de David, caçoando da forma como eu “optei por proteger” minha namorada. No entanto, ele se encontrava tão distante da esposa (Mara) que mal podia vê-la.

Começamos a subir a todo gás o percurso ainda não tão íngreme. Marcas do sangue da senhora machucada sinalizavam as pedras nos locais onde era preciso apoiar-se com o joelho. Crianças (teimosas) esgueiravam-se por entre a relva seca, assumindo a ponta dianteira do grupo. Vislumbrar o comando inexperiente a guiar-nos confirmava a desordem.

Uma pausa para reordenar o inconcebível antes que a montanha começasse a castigar-nos com o aladeiramento progressivo de suas rochas proeminentes. Consumíamos água rápido, mas não com a mesma velocidade com que ela ficava quente. Bebíamos assim mesmo. O estômago embrulhando. A saliva espumando. Os lábios começando a rachar.

Chegamos abaixo da toca da onça, ponto ainda distante da metade do monstro de pedra. Mas foi ali, naquele esconderijo de pedras geladas, que recebemos nosso primeiro presente. Todos fizeram silêncio. Introspectivos. Sugando ao máximo a experiência de estar entre os céus e a terra. Pagaríamos (e caro) todo o prazer sentido nos nossos próximos passos...

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