terça-feira, 21 de outubro de 2008

Serra da Caraconha | Cap_1



O ar puro só não era mais agradável porque o calor escaldante o transformava em um mormaço maciço que, misturado à poeira que alçava vôo ao sabor do vento, tornava-se ainda mais denso. O silêncio, impiedoso e resistente, parecia duelar com tímpanos viciados em sons urbanos que teimavam em procurá-los em meio à caatinga deserta.

Os desacostumados com a ausência de ruídos tentavam quebrá-lo a golpes de efeitos audíveis, provenientes de aparelhos eletrônicos capazes de ler arquivos MP3. Os burburinhos e as músicas incompatíveis com o ambiente pareciam entrar em rota de colisão com a natureza e com o que ela tentava nos presentear: o som, a cor, o cheiro e o sabor da paz...

Diante da imponente Serra da Caraconha, todo orgulho e ostentação deram lugar ao respeito e, não se deve negar, ao medo. Nem bem chegamos ao pé da montanha e já pude ver as primeiras gotas de sangue a marcar o solo seco. Uma senhora de 68 anos, empolgada com a aventura que lhe aguardava, destinou sua atenção e cuidado na hora de atravessar uma cerca e arame farpado, mas não teve sorte no passo que deu em seguida.

Peles humanas já haviam sido “levemente dilaceradas” nas farpas do arame. Deram sinal de existência os primeiros gritos de dor. Costas arranhadas foram às primeiras conseqüências da euforia desmedida por parte de alguns.

Logo após atravessar a cerca, a frágil senhora de desequilibrou e caiu sobre galhos secos (mas vivos) característicos da caatinga. Ao levantar-se, com dificuldade incomum, notou que...

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