terça-feira, 21 de outubro de 2008

Serra da Caraconha | Cap_2


Ao levantar-se, com dificuldade incomum, notou que suas mãos estavam sujas de sangue. As extremidades pontiagudas dos galhos secos arranharam-lhe o corpo, mas, por milagre, não lhe perfuraram a pele. O sangue que escorria sobre a poeira quente inpregnada em sua canela suada provinha do seu joelho direito, que, agora, mostrava uma rótula disforme por traz da epiderme esfolada. “É um aviso. Eu não vou subir”, ponderou a senhora enquanto a dor atinava.

Sob uma árvore de folhas escassas, os ânimos foram arrematados por um curto discurso realista pronunciado pelo “diretor da expedição”. Mais sóbrios, seguimos em direção ao monte de rochas proeminentes. Muitas crianças e mulheres ficaram após o discurso. Prosseguiram os mais audazes, inclusive a senhora de 68 anos.

Finalmente chegamos ao pé da serra e começamos a caminhada. Eu, com duas garrafas pequenas de água enfiadas na cintura, disse com minha voz possante de baixo agregada ao sentimento machista. “Ana, você vai até aonde der. Eu vou até o topo”, afirmei olhando para cima. “Eu vou até o topo”, respondeu Ana (minha namorada) com um tom de desafio.

“Será que vou conseguir? Aquelas pedras não parecem nada firmes...”, balbuciada sozinho já nos primeiros passos. O fato de Ana ir à minha frente, mostrando-me onde as pedras eram firmes e onde eu não deveria pisar, me deixaram meio sem graça e sentindo que algum comentário sobre a cena estava na iminência de mostrar-se...

Nenhum comentário: