O telefone tocou, quebrando, com um estardalhaço exagerado, o silêncio na
mansão do coronel Abigail. O velho emergiu do
estado de introspecção no qual estava mergulhado. Atendeu. Era o delegado
Frederico. A voz segura e ameaçadora trazia más notícias. Sem ponderações,
desatou a falar sem deixar transparecer qualquer vestígio de sensibilidade:
– Seu
filho, o que chamam de Buzina, foi atingido com um tiro no peito. Segundo os
peritos, o projétil deve ter atingido o coração. Ele morreu na hora. O corpo
está no bar de Zé de Piló. Já era para o senhor ter sido comunicado, mas o
oficial encarregado de fazê-lo hesitou. Novato, não quis ser o portador da
notícia ruim. Sabe que o senhor inspira neles certo temor...
O poderoso Abigail já não ostentava a mesma imponência
desde a visão, mais cedo, da lâmina brilhando ao sol. Sabia que aquela aparição macabra
traria o mal consigo e recebeu aquela informação com uma estranha
tranquilidade. Interrompeu laconicamente a fala sem pausa do delegado
Frederico:
– Certo...
estou... indo.
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