(Leia o primeiro capítulo da série: Maluco do Punhal Cap. 1)
Uma toupeira de unhas afiadas havia trabalhado dentro de sua cabeça, abrindo caminho entre seus miolos. Essa foi a sensação do forasteiro anônimo no primeiro instante após emergir do estado de inconsciência. Levantou, lentamente, a pálpebra esquerda e a luz que parecia emanar de todos os cantos, paredes e teto, agrediu sua pupila dilatada.
Com a mão sobre o centro da caixa torácica, sentia a cicatriz saliente formigar. Mas a surpresa que teve ao olhar para o lado o fez esquecer o sonho-recordação. Agora focado no presente, olhava Loreta, o ébrio sobrevivente, a sussurrar ameaças em incontestável delírio, deitado numa maca, com magras mangueiras transparentes ligadas às costas de suas mãos.
No pequeno e bem iluminado cômodo do hospital municipal, ambos se olharam e, naquele momento singular, Loreta despertou completamente. Mais uma vez pronunciou uma ameaça, mas desta vez a pronúncia era limpa, o tom enfático: “vai pagar pelo que fez, ele vai sofrer como poucos!”. O jovem o contempla confuso, mas entende a situação quando leva a mão no rosto. O invólucro de cabelos sujos havia sido retirado. Sei rosto estava limpo, seu semblante exposto. Quem o olhava agora não imaginava que se tratava da mesma figura bizarra que, mais cedo, incomodou a rotina dos feirantes.
(Continua no décimo sexto post da série: Maluco do Punhal Cap. 16)
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