terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Serra da Caraconha | Cap_7



O trecho mais difícil foi vencido. A ferida da corajosa senhora secara. Não mais manchava as rochas com seu sangue. A impressão de velha frágil que a acompanhara durante quase todo o trajeto ficou para a trás. Os passos inseguros e a expressão de dor se perderam na toca da onça.

Agora falava alto e desatadamente, como uma pessoa bastante comunicativa que bebeu demais. “Manda essas fotos para o meu e-mail que quero botar no Orkut”, ordenava a um dos aventureiros provocando graça. Seu tom de voz fazendo-me lembrar Dercy Gonçalves.

O meu suor fazia as duas garrafas escorregarem bermuda a dentro o tempo todo. Tinha que ficar puxando-as para a cintura e inflar o estômago para apertá-las. Esse gesto me dava a impressão de ter emagrecido uns dois quilos naquela escalada. O sol ficava cada vez mais quente. Minha vontade de descansar aumentava.

A senhora eufórica estava poucos metros atrás de mim. Cantarolando, reclamando com um e outro e até proferindo palavras ofensivas ao “capelão”. Usava apenas uma das mãos para apoiar-se. Na outra, carregava dois pequenos cactos. A ausência de medo chegava a ser preocupante. Certamente o comportamento inconseqüente era resultado da produção desordenada (desregulada) de adrenalina em seu corpo...

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