Dói mas é prazeroso. Não, não é a perda da virgindade. É o olhar para o incandescente sol. Gosto de olhar para o sol,apesar da dor que isso provoca. Gosto do brilho danoso invadindo minhas pupilas, mas logo em seguida preciso fechar os olhos. Não consigo fitá-lo. Acho que é um sentimento comum entre os seres humanos. Gostar do que não consegue. Gostar do que não se pode ter. Gostar de quem não se pode ter.
Mas tive um experiência diferente no último sábado. Totalmente consciente do meu astigmatismo olhei para o sol esperando que a luz machucasse os meus olhos, mas não houve dor. Contemplei o grande sol até que ele fosse embora. E, num curto momento de distração, os vestígios de luz que coloriam as nuvens adjacentes também desapareceram. A noite chegou, mas uma pequena luz parecia permanecer em mim. Comigo. Um sentimento bom. Parecido, talvez, com o de perder a virgindade sem dor.