O delegado Frederico era o único na cidade que parecia
ignorar a influência do coronel Abigail sobre as esferas do poder –
legislativo, executivo e judiciário. Embora não ousasse enfrentá-lo, olhava com
certa indignação para os abusos praticados por ele e seus filhos arruaceiros.
Quando assumiu aquela circunscrição policial, há cinco anos, percebeu que havia
uma espécie de lei do silêncio quando o assunto eram os moradores do suntuoso
palacete. Dedicou alguns segundos à recordação do primeiro encontro.
Eram 10 horas, manhã de sol, ele acabara de ser apresentado
a todos os funcionários da delegacia. O clima de boas vindas, com toda aquela
preocupação da sua nova equipe em demonstrar simpatia e não macular a primeira impressão, foram varridos com a aparição daquela figura miúda, carregando no rosto um
sorriso comprimido que mais parecia uma expressão de nojo.
O coronel Abigail começou a falar ainda sob os umbrais da
porta principal. Sua voz era altiva, intimidadora, carregada de uma intransigente
autoconfiança. – Onde está o delegado Frederico? - Assumiu um tom grave antes
de emendar. – Vim visitar meu mais novo amigo.
Continua na série de posts "Maluco do Punhal"