segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Maluco do Punhal | Cap. 16



(Leia o primeiro capítulo da série: Maluco do Punhal Cap. 1)  

Tudo que é novo incomoda. Seja um sapato novo ou um novo buraco no sapato velho. O que dizer, então, de uma mudança repentina, para uma cidade distante, tão surpreendente que até a despedida dos amigos de infância lhe foi vetada? A alegria de Margarida havia ficado para trás, dando lugar a uma vida escura, privada da liberdade, cercada pelo medo de algo que nem sabia o que era. Assim tem vivido seus últimos 10 anos.

Uma lacuna em sua memória, como se tivessem passado uma borracha em um pedaço generoso daquele último dia antes do ingresso na nova vida, ainda a deixava mais confusa. O que aconteceu durante este lapso? Ela não sabia a resposta, mas dentro de si sentia que todo esse sofrimento homeopático era merecido. Inclusive a mudança no comportamento do pai, o coronel Abigail, que com o passar dos anos ficava perigosamente obsessivo. Aparentava superproteção, mas seus olhos profundos e intimidadores às vezes deixavam transparecer desejos doentios.

Agora, enquanto massageava o braço dolorido, Margarida tentava compreender a brusca mudança no curso de sua vida. Se ela tivesse conseguido chegar à janela... se tivesse contemplado elementos do seu passado perdido... talvez, naquela tarde de calor hostil, a peça que faltava no quebra-cabeça encontrasse o devido lugar.  

(Continua no décimo sétimo post da série: Maluco do Punhal | Cap. 17)