quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Chuchu (quiabo)


Às vezes distraio-me tentando endireitar os aparentes equívocos existentes no universo lexical. Algumas palavras parecem ter sido mal escolhidas. Desta vez meu devaneio arrebatou-me enquanto lavava verduras na área de serviço.

Já parou para observar um chuchu? Não acha que é uma palavra muito “delicadinha” para um objeto de formato e aspereza tão másculos? Repare nas características: suas fendas profundas, onde se escondem germes que só saem na base da faca; suas saliências robustas, que lembram músculos hipertrofiados; sua casca espinhosa, capaz de ferir mãos descuidadas...

Observei e cheguei a seguinte conclusão: chuchu não deveria se chamar chuchu. É muito fresco, sensível, afeminado. É como nenê, Dadá, Gugu. Essas palavras pequenas de sílabas repetidas dá a idéia de algo infantil. Irradia dengo.

Observem. O quiabo é que deveria se chamar chuchu, por ser magrinho e visguento. E chuchu muito bem poderia se chamar quiabo, substantivo terminado com a vogal ‘o’, indicador do gênero masculino. Parece até palavrão. Um dia talvez alguém com cabedal para isso perceba o erro e faça a correção. Eu vou fazer minha parte: a partir de hoje para mim chuchu é quiabo e quiabo é chuchu.

domingo, 4 de outubro de 2009

Maravilhoso Rio



Maravilhoso rio,
Atiro-me para ti entregando-te a vida.
Amei teu curso, tua lida,
Encontrei-me com as rochas,
E meu coração se abriu.

Meu sangue misturou-se com o teu,
Compartilhamos, então, o mesmo frio.
Alimentei os teus peixes,
Ele preencheu meu vazio.

Fique preso em sua rede,
Junto a outros seres condenados.
Agora nunca mais terei sede,
Como corpos mortos ensopados.
Liberto da dor de quem uma vez caiu.

Estou completo agora,
Dentro deste rio.
É aqui que mora a paz,
Onde vê-se o reflexo da aurora,
Brilho de panelas areadas com bombril.